sábado, 1 de setembro de 2007

Abaixo a ignorância

Sei que já postei hoje, mas como minha intenet ainda está respirando com a ajuda de aparelhos e ainda não pode andar, resolvi aproveitar um momento de saúde esplêndida da conexão e postar na íntegra um email que recebi, pois adorei a reflexão da autora acerca de uma entrevista e me identifiquei muito com o pensamento dela.

Boa reflexão.
Abraços.





Abaixo a ignorância
[Rosana Herrmann]

Nunca havia lido a coluna do Reinaldo Azevedo e, confesso, sentia uma certa objeção em relação a sua foto com um chapéu, parecendo um cover do João Gilberto antes de cantar Estate. Mas recebi o
link de uma leitora e fui verificar. Ele viu o mesmo programa que eu, ontem, o Roda Viva e também sentiu que o entrevistado era brilhante E isento. Alberto Carlos Almeida foi indevidamente massacrado por alguns entrevistadores que ou não leram o livro ou leram e não entenderam. O Alberto Carlos me pareceu um pesquisador correto, que analisou os resultados de forma magistral. E descobriu coisas que muita gente não quer ver.

É lógico que precisamos ter um país com mais educação. É lógico que isso mudaria tudo, mesmo tendo nosso jeito brasileiro de ser. Mais educação, mais competição no mercado, mais compromisso com os resultados. Menos tolerância à corrupção. Mais clareza, mais exigência.

Eu adorei a colocação dele sobre gente que chega atrasada numa reunião. A pessoa simplesmente pede desculpas e pronto, nada acontece. Um desrespeito com quem chega no horário.

Um colega do meu filho, coreano, explicou algumas diferenças culturais. A Coréia fez uma 'revolução educacional'e praticamente erradicou o analfabetismo. E olha que o Brasil e a Coréia já foram 'parecidos', como diz a matéria.Todo mundo estuda e gosta de estudar. Todos competem, têm baixa tolerância com os erros, são pontuais. E são como os brasileiros em alguns aspectos, hospitaleiros, adoram ajudar os outros. Ou seja, o fato de serem competentes não impede que eles sejam solidários.

Aqui no Brasil muita gente acha que o lindo é ser coitadinho, pobrezinho. Todo mundo que veio de uma infância pobre, como eu, acha que tem uma imensa vantagem. Vai na mídia mostrar a mãezinha pobre e analfabeta como se fosse um atestado de bons antecedentes. Desde quando pobreza é garantia de honestidade? Tem pobre honesto e desonesto assim como tem rico honesto e desonesto, não é uma questão de dinheiro e sim de formação, educação, caráter. E qual é a vantagem de ser filho de analfabetos? Eu preferia que meus pais tivessem tido mais oportundidade, que tivessem podido estudar, que houvesse ao menos um livro na minha casa. Não havia. Esse romantismo ideológico não faz mais sentido. Ninguém é mais inteligente ou honesto porque é pobre e analfabeto.

Alguém no programa colocou que os pobres são melhores pagantes. Mas é porque se não pagam perdem o 'nome limpo', não podem mais comprar à crédito. Se fosse uma questão de princípio não haveria tantos 'gatos', as ligações clandestinas. Portanto, não é uma questão ética e sim de conveniência. Se houver punição, a pessoa manera. Se não houver punição ou fiscalização, ela age da forma que melhor convém a ela e pronto.

Da mesma forma que não há mérito em ser pobre, não faz sentido ficar rico e continuar ignorante. Dinheiro não significa cultura e educação assim como a miséria não é garantia de bom caráter. Vide a pesquisa: os mais ignorantes são mais tolerantes com a violência e a corrupção. O conhecimento amplia a mente! E,claro a pergunta que não quer calar ... por que o Lula não foi estudar depois que teve oportunidade? Porque o preconceito contra o conhecimento é imenso! Boa parte do povo brasileiro prefere a ignorância, porque se identifica com ela.

Também adorei o que o entrevistado disse: quem tem formação, sente-se seguro para cuidar da própria vida. E quem não tem conhecimento é obrigado a ser paternalizado, ou seja, acha que quem vai resolver sua vida é o governo, Deus, o bolsa família, a Igreja. Quem tem conhecimento tem autonomia, tem livre arbítrio. Pode ter fé mas não depende dela para sobreviver. Isso faz diferença.

Apesar de estar bem cheia de muita coisa neste Brasil, não sou do movimento Cansei, porque não confio nas pessoas que o promovem. Mas não sou uma opositora das elites, só por oposição. Como poderia? Eu sou da elite. Nasci classe pobre alta, cresci classe média baixa, estudei em escola pública, fui para a universidade; trabalho desde os 9 anos de idade, fui juntando dinheiro, acertando e errando e hoje vivo bem, tenho trabalho, tenho casa, viajo, qualquer pesquisa me classificaria como elite. Mas sou tão contra a elite burra quanto sou contra o enaltecimento da ignorância como se fosse um valor superior de caráter. Sou a favor do conhecimento e nunca entendi essa raiva que as pessoas têm do saber.

Eu já fui demitida de uma emissora de tv por ser 'muito ELITIZADA', nas palavras de quem me demitiu. Por quê? Pra fazer TV popular tem que ser ignorante? Analfabeto? Tem que cuspir no chão e coçar o saco? E quem fisse que jogador de futebol tem que ser inculto? Por acaso a ignorância melhora o desempenho atlético?

Está na hora do brasileiro começar a querer estudar. Gostar de estudar. Abandonar o preconceito contra o conhecimento.

No mundo em que vivo, o da TV, as únicas coisas que têm valor são corpo e dinheiro. E não é que seja ruim ter ambos, é ótimo ter um bom corpo e muito dinheiro! Mas... tem que vir junto com a IGNORÂNCIA. Porque o saber é RIDICULARIZADO. Exatamente. Existe um imenso preconceito contra quem lê. Os que não lêem acham que 'livro é coisa de quem não trepa, de gente feia.'

Tenho esperança de que esse assunto gere muitas discussões, muitas mesmo.
Porque discutir, polemizar, são passos importantes para a evolução do pensamento e do conhecimento.

Ignorância não é valor moral.
Ignorância só é vantagem para os ricos burros, que têm dinheiro sem conhecimento.
Porque o ignorante só obedece.
Quem aprende, pergunta.
Quem pensa, questiona.

E tem muita gente neste país que não quer uma nação de pessoas cultas questionando tudo. Quer sim um rebanho rebanho de coitados aplaudindo o paternalismo.

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